As
pessoas de sucesso trabalham mais que outras? O que torna algumas pessoas ‘fora
de série’ (outliers)? Nesse livro vamos ver que as habilidades escondem uma lógica
muito mais fascinante e complexa para o percurso do sucesso.
Apresentando histórias como Bill Gates, Bill
Joy (autor do BSB Unix, que mais tarde possibilitaria criação da internet),
Beatles, Mozart... Malcolm Gladwell mostra que o sucesso se beneficia de
oportunidades incríveis, vantagens ocultas e heranças culturais. Além disso,
para se alcançar excelência em qualquer atividade são necessárias nada menos do
que 10 mil horas de pratica - o equivalente a três horas por dia (ou 20 horas
por semana) de treinamento durante 10 anos. A Mágica das ‘10 mil horas’.
Gladwell chama atenção para a importância da
cultura, da família, das oportunidades, do esforço e das experiências
idiossincráticas dos outliers. Para ele você não precisa tanto de talento e sim
de muita prática.
A vida
fascinante de Chris Langan, que aos seis meses já falava em sentenças completas,
é chave para entender melhor o conceito de outliers. Langan tem QI 195
(lembrando que o QI de Einstein era 150)
“Na escola,
Chris Langan aprendia idiomas com extrema facilidade. Se tivesse a chance de
dar uma olhada na matéria por dois ou três minutos antes da chegada do professor,
acertava todas as questões. Aos 16 anos, sabia quase tudo sobre física teórica
e conseguiu decifrar uma obra-prima reconhecidamente intrincada — ‘Principia
Mathematica’, de Bertrand Russell e Alfred North Whitehead. Obteve nota máxima
no SAT — um exame padronizado aplicado a alunos do ensino médio que estão se
candidatando à universidade — embora tenha adormecido durante o teste”.
Depois de
apresentar Chris Langan, Gladwell menciona Lewis Terman, professor de
Psicologia da Universidade de Stanford. Criador do Stanford-Binet, teste-padrão
de QI.
Em 1921, Terman
decidiu que iria estudar os gênios. Com recursos da Commonwealth Foundation,
contratou auxiliares e pesquisou crianças em escolas da Califórnia. As equipes
testaram aproximadamente 250 mil estudantes dos níveis fundamental e médio e
selecionou 1.470 que tinham QI superior a 140. Alguns chegaram a 200. Durante
anos, Terman acompanhou os gênios. “Eles foram rastreados e testados, medidos e
analisados. Suas realizações acadêmicas foram anotadas; os casamentos,
acompanhados; as doenças tabuladas; a saúde psicológica, mapeada.” Tudo sobre
eles era registrado e interpretado. Eram orientados na escolha dos cursos
universitários e empregos. A pesquisa foi publicada como “Estudos Genéricos de
Gênios”.
O que Gladwell
mostra é que, apesar do incentivo de Terman, nem todos os gênios obtiveram
sucesso. Os fora de série, “outliers”, tornaram-se pessoas comuns.
Gladwell aponta
que “a relação entre sucesso e QI funciona até certo ponto. Depois que alguém
alcança um QI em torno de 120, quaisquer pontos adicionais não parecem se
converter em vantagem mensurável no mundo real. O QI de Langan é 30% mais alto
do que o de Einstein. Mas isso não significa que Langan seja 30% mais
inteligente do que ele”. Na verdade, “ambos são suficientemente inteligentes”.
“Se a inteligência só importa até certo
ponto”, constata Gladwell, “então a partir desse patamar outros fatores — que
não têm nada a ver com a inteligência —começam a pesar”.
O sociólogo
Pitirim Sorokin, crítico de Terman, disse: “Não há nada extra em termos de
imaginação ou de padrões da genialidade que mostre que o ‘grupo de superdotados’
como um todo é superdotado”. O próprio Terman admitiu, ao final dos estudos:
“Vimos, com uma ponta de decepção, que intelecto e realização estão longe da
correlação perfeita”. Ser bem-sucedido, portanto, não tem ‘relação absoluta e direta’
com QI alto.
Voltemos então
a história de Chris Langan. É possível que sua inteligência, tenha gerado certa
arrogância? É possível que a falta de uma família estruturada o tenha prejudicado? Bem como a falta de visão de
professores e diretores do Reed College e da Universidade de Montana, que não
souberam apoiá-lo?
Ao estudar Chris Langan,
Gladwell menciona a história de Robert Oppenheimer, o físico americano que foi
decisivo para a construção da bomba atômica. Oppenheimer era um menino
prodígio, brilhante deste o ensino fundamental. Estudou em Harvard e
doutorou-se em física em Cambridge. Na Inglaterra, irritado com seu instrutor,
Patrick Blackett (Prêmio Nobel de 1948) — pois queria estudar física teórica e
não física experimental —, tentou envenená-lo. Blackett escapou e Cambridge
advertiu o aluno rebelde. Kai Bird e Martin Sherwin, na biografia “American
Prometheus”, relatam: “Após negociações prolongadas, foi combinado que Robert
seria suspenso e teria sessões regulares com um psiquiatra proeminente de Harley
Street, em Londres”.
Chris Langan, um gênio
consumado, perdeu a bolsa de estudos, por desleixo da mãe que esqueceu de
assinar a documentação, e acabou tendo sua vida acadêmica encerrada pela
burocracia. Oppenheimer, que tentou assassinar um professor, acabou perdoado e
enviado a um psiquiatra.
Mais tarde, consagrado como um
dos físicos mais brilhantes do mundo, Oppenheimer assumiu a direção científica
do Projeto Manhattan, com o objetivo de construir a bomba atômica. O general
Leslie Groves foi encarregado de encontrar o cientista para dirigir o projeto. Como
só tinha 38 anos e era um físico teórico, Oppenheimer, em tese, não deveria ter
sido escolhido. Mas foi. Ao conversar com Groves, Oppenheimer esmerou-se,
apresentando suas ideias de maneira brilhante, com uma argumentação
convincente.
Por que Oppenheimer deu certo
e Chris Langan, “errado”? “Porque Oppenheimer possuía um tipo de destreza que
lhe permitia obter o que quisesse do mundo.” Chris Langan, confrontado com os
problemas, desistia. Faltava a Langan Inteligência prática.
O psicólogo Robert Sternberg,
citado por Gladwell, fala em “inteligência prática”. Para Sternberg, a
inteligência prática inclui elementos como ‘saber o que dizer e para quem;
saber quando dizer e saber como dizer para obter o máximo de efeito’.
Usando o termo técnico, a
inteligência geral e inteligência prática são ‘ortogonais’: a presença de uma
não implica a presença da outra. Uma pessoa pode ter inteligência analítica e
pouquíssima inteligência prática, assim como pode ser rica em inteligência
prática e pobre em inteligência analítica ou — como no caso afortunado de
alguém como Robert Oppenheimer — pode ter as duas.
Chris Langan nasceu
inteligente. O QI é um indicador, em grande medida, de habilidade inata. Mas a ‘destreza
social’, conceito cunhado pela socióloga Annete Lareau vem da convivência no
ambiente familiar É um conjunto de capacidades que precisam ser aprendidas.
A Leitura vale cada página!!!